2

Pseudologia fantástica

Posted by Diana Magnavita on 03:04

      Sentados em um bar Bia e Carlos conversam espontaneamente. O diálogo vai se tornando cada vez mais intimista e isso, deixa Bia um pouco desagradada, já que tem um distúrbio de personalidade anti-social, mas isso nunca pareceu ter interferido de forma tão ameaçadora em sua vida.
- Com quantas pessoas já teve relações sexuais? – Carlos questionou franzindo o cenho.
-umas 20. – Ela respondeu olhando para a xícara de café frio sobre a mesa, respirou fundo e o olhou nos olhos. – E você?
- Perdi totalmente a conta. – Ele disse galhofando.
- Por que os homens sempre tentam impressionar as mulheres com esse papo de “comi todo mundo”? – Ela debochou.
- Não disse isso. Apenas a verdade! – Ele se sacudiu desajeitado na cadeira.

      Será que alguém mentia naquele momento? Carlos pareceu desagradado por diversas vezes com as alfinetadas da garota, mas a única pessoa diagnosticada com distúrbio de personalidade era ela.
Bia tinha vinte e sete anos e se passava por uma jovem de vinte, estudava letras em uma universidade renomada, mas nunca conseguiu passar do 6° semestre. Suas atitudes eram excêntricas, embora for excêntrico seja algo difícil de relatar, quando opiniões divergem, mas ela, conseguia vestir meias verdes com tênis azul e um vestido floral vermelho sangue. Usava uns óculos pequenos em seu rosto, que se escondia por trás do seu enorme nariz desproporcional para o seu conjunto. Embora, assim, Bia não era uma garota feia, era apenas desajeitada. O fato de já ter dormido com vinte caras, era mentira! Bia era virgem, nunca perdeu a virgindade, nem mesmo com tampão. Talvez, tivesse vergonha de admitir isso em público, que jamais houve um relacionamento em sua vida, um ser apaixonado, que a deliciasse de poesia e todo aquele clichê do romance.
       Não era isso que incomodava Bia, não! Ela se achava feliz e desejada, pelo menos ela dizia isso. Todos os rapazes da faculdade eram apaixonados por ela e já tentou namorá-la, um de seus professores a convidou para dormir com ele, nasceu no Chile, seus pais eram parentes diretos de Fidel Castro, seu pai conheceu Che Guevara, sua irmã mais nova nasceu siamesa e seu avô morreu de catarata aos duzentos anos. Sim, ela queria que você acreditasse nisso tudo.
Na verdade, Bia era apenas uma garota solitária, que imaginava como seria sua vida, se não fosse essa. É uma patologia difícil de identificar, já que o paciente não contribui muito e quase sempre negam, suas verdades serem mentiras. Aos poucos, ela se isola do mundo e o mundo vai expulsando ela do eixo de controle e amigos, conhecidos e até mesmo os desconhecidos passaram a tratá-la como, a mentirosa.
Sofria de booling constantemente, isso foi se tornando constrangedor. Bia passou a não querer sair mais de casa, não queria dormir ou comer, mas a sua imaginação estava cada vez mais ativa e quase alucinada.            No dia 20 de setembro de dois mil e dois, segundo a mesma, fora internada em um hospital psiquiátrico e fora diagnosticada com pseudologia fantástica, algo como mentiroso compulsivo. Suas mentiras passaram a fazer parte das células do seu corpo e era, como se precisasse delas para continuar a existir, respirar, viver.
        Ela encontrasse sob observação médica, mostrou-se a pessoa triste que era por dentro e não se exteriorizava. Entregou-se ao estado de inércia e deixou que a respiração lhe faltasse. Depois do dia quinze de fevereiro de dois mil e quatro, todos esqueceram a existência de Bia, ninguém tocava em seu nome, ela caiu no total anonimato, que jamais desejou. Ela fora morta e enterrada para a cidade de Guanambi, onde nasceu, foi esquecida pelos familiares, amigos e inclusive, eu, mas Bia retornou nos meus pensamentos e percebi que estava viva em algum lugar, com outra vida, talvez, mais velha. Poderia ter tido filhos, casado, se curado, ou simplesmente, tido uma overdose daqueles, fortes medicamentos que habitualmente receitam aos pacientes dos centros psiquiátricos. 


DianaMagnavita.




                                                                

0

O olhar

Posted by Diana Magnavita on 21:40

Ao assistir a propaganda da Petrobrás, mais recente, percebi que há uma exploração por parte do olhar, que ante qualquer gesto ou movimento possa confabular uma atitude, os olhos estão atentos e nos alertando da cena seguinte. Através disso, pude desenvolver algum estudo a respeito do olhar, ao inicio o olhar simples, aquele que não foi trabalhado ao longo de um estudo, teatral, artístico, ou seria melhor, virgem. Aquele olhar do elevador, onde cada qual olha para um ponto estático evitando o constrangimento do olhar nos olhos de um alguém que mal nos conhece. Por quê? O olhar pode nos denunciar? Pode mostrar nossos medos, preconceitos, sofrimentos e anseios.
No estudo de artes cênicas é muito trabalhado o olhar, o foco para onde se olha, faz parte da interpretação do ator-bailarino. No entanto, se uma personagem deseja se mostrar casta, pura, ameaçada por uma curiosidade e medo ao receber em sua frente o corpo de um outro ser para sua primeira atividade sexual. Seus gestos devem estar sincronizados com estas informações. Casta, pura, romântica, ansiosa e ao mesmo tempo assustada. Sem verbalizar, o que nos vai transmitir essas sensações? Os gestos e, principalmente o olhar. Se cruzarmos demais os braços, por exemplo, e olharmos para o alto, aparentaria uma freira orando, talvez pedindo perdão pelo seu pecado. Ou algo que levaria ao alto do céu, da religião. Que não seria a proposta dada pelo diretor.
O que quero dizer que a potência do olhar nos diz muito do que nós somos e pretendemos. Sendo muito mais que uma função fisiológica e pode ser mais forte que a própria linguagem verbal. Às vezes nossos atos e palavras não condizem aos nossos olhares. Dizem, que o olhar não mente, é um universo vasto, misterioso e místico. O famoso olho gordo, por exemplo, olho de inveja, de desejos falsos e muitas vezes maléficos. O olhar simples e inocente, o olhar malicioso, bondoso, excitante, sedutor, olhar de desejo, vontade de possuir alguma coisa, olhar intransigente, ansioso, evasivo, triste, solitário, perseguidor, tirano.
Portanto o olhar, como morada da alma, documenta o fluxo universal, pessoal e social, que permeia ao redor da história. Nos olhos históricos que observam as construções e como a evolução molda a existência. O olhar é uma linguagem, muito mais do que se pensa, e pode transformar reações, entregar réu e vítimas. Se soubermos olhar mais diretamente nos olhos dos nossos semelhantes, como nos exercícios de artes cênicas, se nos fosse mais fácil, e nem tanto intimista, devido ao medo de ser descoberto e até ruborizar, como se algo estivesse a ser desvendado, não temeríamos tanto, o olho a olho dos elevadores da vida. E quem sabe assim, nos sentiríamos menos prisioneiros de nós mesmos para nos doar a aquela que mal sabemos quem são, mas pelos gestos, movimentos e olhares, podem traduzir mais que mil palavras. Portanto, o verbo hoje é perceber.                                                                       
                                                                                                             Diana Magnavita.
                                                                                                                    
                                              O comercial que me inspirou:
                                                                                                                 

0

Uma carta, um e-mail, ou apenas, relato sentimental sobre o amor eterno...

Posted by Diana Magnavita on 19:32
     Caminhei por altas horas, meu corpo estava aberto e levemente entorpecido. Não sei quanto tempo caminhei, pois não sei contar em pensamentos. Meus pés estavam inchados de tanto testar possibilidades em utilizá-lo, estava cansada já, mas ainda havia a esperança nos movimentos dos corpos. Foi quando lembrei que o professor disse para trazer meu sofrimento para minha arte. Qual é o meu, finalmente, sofrimento? Angustio-me constantemente sem causa alguma, desespero-me por motivos variavelmente mutáveis.
      Tudo só depende de mim, mas eu sou um corpo que pensa e sente, mas está doente da vontade. Embora ela exista, a luta é como se me cortasse em pedaços. Sei que não vou fracassar diante da minha arte, mas não estou sofrendo para que ela exista. Estou sofrendo por amor. O amor cortou minha alma, me deu tudo que eu queria, como um demônio em um pacto sangrento. O amor lambeu-me toda e levou tudo que eu tinha, mas eu já não tinha nada. Eu era um corpo desesperado, triste, vazio, que não acreditava que o amor poderia mudar alguma simples coisa em minha vida.
  O amor mata! O amor é uma doença degenerativa e quanto mais você ama, você vicia nessa coisa estranha que é estar sempre amando, aquela pessoa, que te levou tudo e pagou-lhe com tudo que tinha. O amor não é apenas maus fluidos, o amor é um botão de rosa, mas também é a morte desta. E o amor é coisa mais bela que se pode existir nesse mundo, quando se tem sinceridade, mas o amor é taciturno ao ser rompido pelo ser amado ou ainda separado pela morte.
O amor leva ao êxtase, leva a sensações inimagináveis, mas é uma faca de dois gumes. Um dia, simplesmente, sem um motivo qualquer, ele pode buscar outros olhares, e julga ter sido eterno enquanto durou. O amor lava a alma e a chuta na lama. E ainda que se tente prever, os oráculos, também amam e sofrem por ele. O amor não gosta de repetições, ele é mutável, sempre e continuamente. O amor não acomoda, ele quer sempre algo mais, ele se move lentamente ou vorazmente e do mesmo jeito se desfaz.
Eis o amor, meu maior defeito. Eu amo demais, eu não sofro por amor, mas eu sou uma mulher que ama demais. Eu não sou infeliz, mas só sou feliz quando estou ao lado de quem amo. O amor é uma montanha russa, cheia de emoções, mas quando a sessão termina, a vida volta a ser a mesma, sempre, ou não.
         Não sou do tipo, que sofre por amor, nem por falta dele, mas quando de fato amo meu corpo não parece responder a minha razão. Eu me entrego tão completamente que me assusta o fato de um dia tudo desaparecer e eu estiver, ali, sozinha, sem esse tão profundo amor. Amar é bom, e se por algum motivo este amor se dissolver, ele estará em minha lembrança, como o melhor amor que já tive e a melhor experiência, mais feliz, mesmo que não seja eterno, mesmo que me prepare para o fim, irei inspirar até a ultima gota do seu cheiro, para que daqui a 50 anos possa recordar tão belo foi o nosso amor.
                                                                                                                  Diana Magnavita

Copyright © 2009 Eu escrevo errado por linhas certas? All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive.