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Nemo

Posted by Diana Magnavita on 17:46

   Acordei às 7h da manhã me lembrando de uma situação que vivi no final do mês passado. Estava embaixo de uma árvore em frente ao mar, sobre uma esteira grande, com dois amigos e um violão. Conversas e risadas num final de tarde gostoso de quarta feira de cinzas. Um dos amigos veio segurando entre as mãos um filhote de pardal que havia caído do ninho. Um animal pequeno e delicado que estava fadado à morte. Enquanto este animal estava acolhido às mãos, dois pardais adultos e um mais jovem sobrevoavam nossas cabeças desesperados. Era a família, pensei. Deveríamos ajudá-los a salvar seu filhote. No meu coração apertou uma angústia em saber que aquele filhotinho dependia de nós para que continuasse vivo.
     Colocamos o Pardal no gramado enquanto pensávamos em como solucionar seu problema, enquanto isso, os pardais adultos davam vôos rasantes entre nós e o filhote. O animal frágil e delicado mostrou-se persistente e aplicado em suas tentativas pouco eficientes de subir no tronco de um coqueiro. Durante esse tempo que o observamos, o pai lhe dava as coordenadas para que pudesse repetir. Todas tentativas sem êxito, mas o pequeno Nemo, como o apelidamos, não desistia nunca. Um exemplo de coragem e vontade, lutando para se atingir um objetivo. Naquele momento, ninguém percebeu, mas meus olhos encheram de lágrimas, pois atribui a mim as qualidades do bichinho, ou pelo menos usei como modelo para minha vida.
    Quem diria que um animal tão pequeno e delicado poderia me ensinar a voar em meus sonhos, persistir em meu caminho, enfrentar os meus medos de fracassar, medo de errar inúmeras vezes. Não foram as sessões de terapia que me devolveram a imensa vontade de correr atrás da minha felicidade, de lutar em meio aos caminhos escuros e assustadores e nos momentos que acreditei estar só estava alguém muito importante zelando por mim, mas não influenciava minhas escolhas, tais como os pardais adultos que faziam a proteção do seu filhote.
     Aquele foi o filme mais límpido, sutil e exclusivo que meus olhos poderiam apreciar, já que não é todo dia que podemos ver uma fêmea de pardal alimentar sua cria e assistir a todas as tentativas do animalzinho a chegar ao seu objetivo. Então, levantei e fui até o filhote que estava escondido entre pedras e mato. Aproximei um tanto sem jeito e falei baixinho com ele que me observava atentamente como se entendesse minhas palavras.
    Os pardais adultos sobrevoavam aflitos cada vez que alguém se aproximava do filhotinho. Eu dei a idéia de colocá-lo encima da árvore maior para que ele pudesse ficar próximo aos pais e não corresse risco de ser comido por outro animal, morto por alguém perverso ou até mesmo ser atropelado.
     O macho pardal tornou a lhe dar as coordenadas e de repente o filhote deu um pequeno vôo desengonçado, como o primeiro passo de dança na vida de uma criança ou arremesso de uma bola, as primeiras notas em um instrumento musical, a primeira frase escrita, com a letrinha descoordenada. Foi o primeiro de muitos vôos, o vôo pela vida, uma luta cheia de barreiras que foram superadas e aplaudida de pé.
                                       Diana Magnavita

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