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Monstros sem cabeça

Posted by Diana Magnavita on 16:46
        “Amo o público, mas não o admiro. Como indivíduos, sim. Mas, como multidão, não passa de um monstro sem cabeça” (Charles Chaplin). Ao exibir essa frase em alguma página que não me recordo mais, lembrei-me instantaneamente de sensações cor de cinza que fixavam em minha mente como tinta no papel ao me posicionar diante do público. Sentia como se estivesse sendo despida lentamente, uma vergonha corava-me a face e me fazia transpirar. Não sei ao certo se essa reação era proveniente do refletor que queimava meus olhos e ardia minha pele, como se fosse arrancá-la dos músculos ou a timidez excessiva que flutuava e impregnava pelos meus poros.
       Sou tão estranha, Pensei. “Sim, você é estranha, você é dramática, você se move como uma pessoa fraca.” Uma voz que não era a minha respondia. Eu estava aflita com toda luz expandindo sobre mim e em minha frente à escuridão caia sobre tudo que ali estivesse e não fosse eu. Eu brilhava, eu crescia, eu existia! Então, gritei! Não sou fraca, não sou estranha, sou diferente! Não houve resposta.
       Uma ebulição de sentimentos tomou conta do meu corpo, do meu ser e possuía-me e não era lentamente que minhas roupas eram removidas, era arrancada com força e agredia minha alma. Eu estava completamente exposta e seria julgada. A voz, agora materializada segurava um microfone e anunciava minha sentença. Centenas de corpos sem rostos gritavam e falavam alto e aplaudiam e eu não podia perceber o que eles realmente pensavam, achavam, diziam ou faziam. Eu não tinha olhos, pois os refletores havia me cegado. Eu escorregava lentamente pelo assoalho e movia com ternura, mas sentia medo de entregar minha alma em meio a multidão desconhecida.  
      Estou sozinha, pensei comigo mesma. Estou abandonada e perdida, condenada à morte. Entregue ao julgamento dos monstros sem cabeça. Minhas mãos tremiam, meu corpo inteiro tremia, eu sentia medo, insegurança, talvez. De repente minha ansiedade dissolvia e uma euforia descarregada do meu corpo pintava as paredes com cores vivas. Eu sentia a minha verdade expandida em meu peito. Eu via, minha solidão diante da multidão e ela era linda. Ela me mostrava ser humano e mais que um monstro sem cabeça, eu era real. Eu tinha vida! E as cortinas me cobriram escondendo meu corpo despido, devolvendo meu anonimato; Aplausos

                                                                                                               Diana Magnavita.

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